segunda-feira, 4 de maio de 2009

Suzana os Pretos Velhos e a Pinga com Mel

As imagens contidas neste post são obras de Rubem Valentim

Já fazia um certo tempo que Suzana achava que não tinha mais religião. Ok sua “formação” era católica como a de muitos brasileiros. Foi batizada, fez 1ª comunhão enfim... Mas não gostava mais da igreja, nem do papo evangelizador dos Padres Cantantes ou da chatice dos Bispos e Papas (com exceção do “Papa Pop Morto”, desse ela gostava). Também gostava das histórias dos Santos, tão dramáticas, teatrais. Da história do Jesus também gostava, acreditava nessa história inclusive, deve ter passado por mudanças ao longo do tempo e de acordo com os objetivos de quem contava, mas Suzana não achava que uma história conhecida por tanta gente no mundo inteiro e em tempos diferentes seria de todo mentira.

Suzana começou sentir necessidade de cuidar mais do seu lado espiritual sabe???!!! Não era balela não, é que ela achava que as pessoas não podiam ficar largadas, espiritualmente falando, nesse mundão de tantas coisas esquisitas. Por um tempo achou que a terapia de bar e os pequenos prazeres bastavam, mas não.

Lembrou-se da primeira vez que esteve em um espaço religioso “não católico”, ainda era criança, devia ter uns 11 anos, foi com a mãe, que por sua vez foi convidada por uma amiga que estava sendo levada ao espaço pelo marido, que na época era candidato a alguma coisa e estava atirando para todos os lados.
Suzana sequer se lembrava do nome do terreiro, lembrava que era noite de “Preto Velho”, na época não fazia a menor idéia do que isso significava. O lugar era bem ajeitado, todo decorado, com muitas imagens e muito defumador, estava cheio e os visitantes se acomodavam em uma arquibancada. Derrepente, eis que começa uma batucada, animada por sinal, todo mundo cantava e batia na palma da mão, até parecia com as Rodas de Samba que Suzana frequenta hoje em dia. Tinha uma Negrona no meio do Terreiro que obviamente era a Mãe de Santo, lá pelas tantas ela preparou uma bebida num coco, bebeu, deu pra galera que estava com ela dentro do terreiro, depois passou para a arquibancada. O povo da arquibancada pegava o coco, bebia do coco, e passava o coco para o vizinho do lado. E foi rolando um passa-passa até que o coco chegou às mãos da mãe de Suzana. No meio terreiro alguma coisa tinha acontecido, Suzana tinha ficado observando o trajeto do coco e perdeu a transição daquelas pessoas. Elas haviam se transformado, todos pareciam velhinhos, que doidera! Andavam curvados, tremiam as pernas, alguns dançavam devagar, outros nem conseguiam andar, todos fumavam, alguns bebiam e havia os que fumavam e bebiam.

“O que aconteceu com eles mãe?” perguntou Suzana.
“Eles incorporaram minha filha, você não ouviu que hoje é noite de Preto Velho?”
“Incorpo o quê mãe?”
Perguntou Suzana.
“Ai menina deixa de tanta pergunta, agora bebe.” E tentou passar o coco para Suzana.
“Eu que não vou nem pegar nesse troço, todo babado”.
Nesse momento a Mãe de Santo parou o que estava fazendo e olhou na direção de Suzana e ordenou: “Pode pegá i bebê”. Suzana olhou para a mãe (Biológica, não a de santo) com os olhos mais que arregalados, estava apavorada. Mãe e filha ficaram um tempinho numa espécie de queda de braço, uma empurrava o coco para as mãos da outra.
“Pega filha dá um biquinho só”. Disse a mãe de Suzana.
“Eu não, que nojo”. Pegou o coco da mãe e passou pra pessoa do lado.
Vai tê qui pegá, e vai tê qui bebê”. Disse a Mãe de Santo lá do meio do Terreiro.
“Não vou beber mãe, tô com medo, e se eu virar Preta Velha igual eles?”
“Deixa de besteira Suzana, dá um bico”.


Suzana levou o coco a boca, fingiu que bebeu e passou pra pessoa do lado.
“To falando qui é pá bebê”. Disse a Mãe de Santo, muito brava aos olhos de Suzana, que com lágrimas nos olhos deu um biquinho no liquido. Depois mais um biquinho, e um golinho e um gole maior.

“Ai mãe é doce, o que é que tem aqui?
É Pinga com Mel mocinha”. Disse a pessoa que estava do lado de Suzana.
Hum... É docinho, gostosinho”. Disse Suzana dando mais um golão.
“Tá bom filha, pode passar o coco”. Disse a mãe de Suzana.
“Espera aí mãe, só mais um golinho”.
É pá passá qui tem mais fio pá bebê”. Disse a Mãe de Santo.
Com certo custo Suzana passou o coco a diante.
Até hoje bebe pinga com mel, diz que a bebida é boa, barata, docinha e ainda faz bem pra garganta.

Há pouco tempo já adulta, bem adulta por sinal, Suzana voltou a um terreiro. Não era o mesmo, nem era noite de Preto Velho, era Gira de Esquerda, mas essa é outra história...

2 Heim?!:

Thais disse...

Eh, mizi fia!Teu lado escrevinhador é um barato! Mais pinga com Mel, talvez champanhe Rosê e o sucesso vem de onde não aguardamos!

beijo

ps- Não poderia dizer parabéns ou que surpresa porque seria menosprezar o seu talento, entende? Eu sabia q podia ser bom, mas logo de cara ser excelente?! Puxa, nao páre!
Obrigada
beijo

Flavia D'Álima disse...

Que bom que vc apareceu por aqui Thais! Seja bem vinda e volte sempre. É como está nos sacos de pão: Agradeço a preferência.

Beijokas

 
Era pra ser Ursula. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino