terça-feira, 19 de maio de 2009

Suzana, Maria Padilha e a Oferenda - Final

“Vizinho, polícia o que mais falta me acontecer?” Pensava Suzana totalmente descontrolada.
Os três (Suzana, Jorge O Vizinho e O Policial) ficaram ali na maior confusão. Os dois (Suzana e Jorge O Vizinho) tentando se explicar ao mesmo tempo e o policial se esforçando para entender. Mas captando apenas algumas palavras e frases soltas:
“Que namorado, vizinho, só vizinho”
“Não bebi nem uso drogas é tudo por causa do despacho”
“Oferenda light”
“Posso ir? O senhor vai conversando com ele”
“Opa não sou eu que tô detonando o patrimônio público, espalhando frango por aí”
“Frango por aí?”
Perguntou O Policial faminto, pois já passava da hora do jantar e ele ainda estava de estômago vazio.

Enquanto os três discutiam o Pêu morador daquela esquina a uns 12 anos observava tudo meio de longe. Percebeu que ali perto dos três, em um dos seus postes preferidos havia alguma coisa. Esforçou-se para enxergar e aquela visão o deixou mais que satisfeito. “Um maço inteiro de cigarros e uma garrafa de champanhe!!! Há quanto tempo não bebo um champanhezinho?” Pensava Pêu. Começou a se aproximar cuidadosamente da oferenda, daquele jeito fedido e imperceptível que só os moradores de rua têm.
Num bote só pegou a garrafa, o maço de cigarros e os três cigarros soltos. Saiu de fininho contente, muito contente, dando um trago em um dos cigarros que já estavam acessos. A noite do Pêu estava boa, “pena não ter um franguinho”. Pensava o andarilho.

Suzana enfim conseguiu se explicar ao policial, disse que estava ali andando pela rua e que aquele moço (O Jorge), que dizia ser seu vizinho começou a lhe importunar. Jorge por sua vez com medo do policial, acabou falando de mais e sendo detido por desacato a autoridade.

Suzana aliviada com a partida dos dois foi dar uma ultima conferida na sua oferenda e não acreditou no que viu, quer dizer, no que não viu. O maço de cigarros, a garrafa de champanhe e os cigarros acessos haviam sumido. Novamente o desespero tomou conta de Suzana. “Será que a Maria Padilha já passou por aqui? Mas rápido assim? Será que foi ela naquela hora em que senti um fedozinho?” Até que caiu em si. “Minha nossa! Não foi a entidade, alguém passou por aqui, mas quem? Não tinha visto ninguém além do Policial e o do chato do Jorge.”
“E agora o que será de mim?” Pensava Suzana, choramingado apreensiva com o seu futuro.

Depois do ocorrido Suzana nunca mais foi a mesma, vivia com medo da Maria Padilha pela violação da oferenda, pensava que devia ter ido a outra rua, talvez mais cedo ou quem sabe um pouquinho mais tarde. Com medo de sofrer represarias da entidade se agarrou ao Santo Expedito, aquele das causas impossíveis. Também coleciona amuletos da sorte e acha que sua vida deu uma estagnada desde a oferenda mal sucedida.

Atualmente tem todos os CD’S, DVD’S e livros de todos os padres cantantes e escritores que já ouviu falar e dos que nunca ouviu falar também, quase não sai de casa, é católica mais que fervorosa e nem pensa em voltar para umbanda. Sua mãe anda lhe aconselhando a buscar ajuda espiritual em outro lugar quem sabe com os kardecistas. “É minha filha só pode ser Karma, coisa de outras vidas. E se você não resolver isso agora nessa encarnação a pendenga vai ficar próxima”. Dizia sabiamente Dona Erinalva.
Suzana estava quase cedendo aos conselhos e apelos da mãe, mas essa é outra história.

O Pêu? Passa diariamente pelo poste da rua em T, na esperança de mais cigarros, bebidas ou quem sabe comidinhas.
 
Era pra ser Ursula. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino