sexta-feira, 24 de abril de 2009

A Eterna Insatisfeita e o Perseguido - Final

O namoro já durava alguns meses e Joana como era de costume já não estava mais tão contente e satisfeita, Antônio estava praticamente morando em seu apartamento sem ter sido convidado para morar. E Joana não sabia como resolver essa questão. Seu namorado com o passar do tempo foi se mostrando ciumento, muito ciumento e possessivo. Ele reclamava de tudo, das roupas, dos decotes, dos quadros, das contas. Não gostava de sair, não gostava de cinema, não dançava e parecia detestar Arte.
Antônio estava completamente apaixonado por Joana, como nunca esteve e isso era tão confuso pra ele, não sabia como lidar com os sentimentos, com os pensamentos, com os medos. Tinha medo de estar sendo explorado pela garota, mesmo morando no apartamento dela.
Não gostava de dividir contas, não queria conversar, só queria estar com ela. Mas alguma coisa havia mudado, Joana estava diferente “será que era o trabalho?” Pensava Antônio, ela estava trabalhando como nunca e no fundo, nem tão lá fundo, Antônio se incomodava profundamente com seu sucesso. Pensou em proibi-la de trabalhar, mas ela não aceitaria. Pensou em restringir seus horários, mas isso não daria certo. Pensou em quebrar todos aqueles dentes pra que ela sorrisse menos. Pois é, os pensamentos foram ficando esquisitos.

Joana que estava com os dois pés atrás optou por conversar com Antônio, disse que não se sentia pronta para morar com ninguém, que estava se sentido sem espaço enfim, pediu que ele voltasse pra sua casa e a reação do namorado não foi das melhores. Primeiro ele foi agressivo destruiu uns quadros, uns copos e um vaso, depois começou a chorar feito um bebezão, pedindo por favor, se arrastando e com o nariz escorrendo baldes, deprimente!
Mas não teve jeito Joana disse que não queria mais vê-lo morando em seu apartamento na Segunda Feira. Era uma sexta feira de manhã quando tudo aconteceu. Joana decidiu dar um tempo e saiu.

Antônio voltou aos pensamentos esquisitos, poderia jogá-la pela janela como andavam fazendo com as crianças, mas isso seria muito trabalhoso. Poderia envenenar sua comida, mas ela poderia não comer. Poderia estrangulá-la mas, isso seria muito angustiante. Facadas, teria coragem de dar umas 15 facadas em legítima defesa? Se ao menos vivesse no Afeganistão, Joana só andaria de Burca, sairia de casa apenas com sua autorização e seria obrigada a transar com ele mesmo que ela não quisesse, pois lá a lei permite tudo isso.
Não poderia viver em meio a toda aquela aflição, enfim decidiu. Pegou sua arma, abriu sua boca, posicionou a arma bem lá dentro e atirou.

Até hoje o apartamento de Joana não está completamente limpo e as telas com respingos de sangue, pedacinhos de dentes e miolos ainda não foram vendidas.
Depois do ocorrido nenhuma tela foi vendida, nenhuma nova tela foi pintada.

Atualmente Joana trabalha em um asilo, um lugar incrivelmente calmo. Ensina pintura aos idosos, alguns cegos, outros surdos e quase todos gagás, mas isso não importa. Eles não estão aprendendo muito nas aulas mas isso não importa, talvez nem gostem das aulas o que também não importa. Se Joana está satisfeita? Não sei, mas isso importa? Para Joana o que importa é passar todo o tempo possível longe e acabar logo seu tratamento dentário, o tártaro estava corroendo seus dentes e sua gengiva o que não era admissível.
 
Era pra ser Ursula. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino