quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

É o seguinte:

Agradeço de coração pelas mensagens (em toooooodas as vias de comunicação), pelo bolo e almoço delícia da Dona Marinalva, pelo amor dos meus amigos, pelos abraços e beijos vários, ah e pela penca de presentes. São tantos presentes e, como tenho amigos bons demais, eles se encarregam de aparecer com coisas únicas, inesquecíveis. Como esse texto que replico aqui, mas está postado no Bar e lanches taboao
David da Silva seu filho da mãe, sem palavras pra agradecer.
Cachorro! Poeta! Tenho tanto orgulho em tê-lo como amigo, em sempre receber carinho e atenção, assim de graça, é tanta generosidade da sua parte... Obrigadão!


QUARTA-FEIRA, 25 DE JANEIRO DE 2012


Confissão de amor pela vizinha

Para Flávia D’Álima, aniversariante

Aquela a quem eu amo me disse hoje, pela manhã, 
que a data de fundação da cidade de São Paulo é 
evento tão importante, que as cidades vizinhas 
também deviam se curvar à aniversariante.
Irrefutável.
A região metropolitana inteira, a chamada Grande 
São Paulo em peso tem obrigação de reverenciar o 
município-mãe no seu dia da criação.
Taboanense da gema, tenho pela capital paulista a 
mais plena veneração. 
Tanto assim que exercito minha boemia pela região 
mítica de “Campo Limpo-Taboão”, devidamente definida na cartografia 
poética de Robinson Padial, o Binho.
A metrópole paulistana compartilha sua data querida com minha amiga 
esplêndida em todos os fulgores da sua beleza física e múltiplos talentos 
Flávia D’Álima.
Flávia D'Álima em Paixão de Cristo
Moradores de Taboão da Serra já tiveram a 
benção de ver Flávia em ação arrebatadora 
na encenação da Paixão de Cristo por quase 
uma década (2000 a 2006). A atividade 
artística de Flávia D’Àlima é uma corrente de 
acertos (aos quais ela teimosamente 
embirra de dizer que contém fracassos).
Na estrada desde 1996, Flávia já encarnou 
nos palcos personagens de pelo menos 18 
montagens teatrais. E além de brilhar na boca 
de cena, agora também irradia aptidão por trás 
das cortinas, na produção.

Flávia e eu temos bocas e olhos devidamente 
equipados para longas jornadas noite a dentro (axé!, Eugene O’Neill). 
Hora dessas vamos peregrinar em ronda noturna por uns fecha-nunca 
sempre plenos de ensinamento para quem não cansa de aprender com o 
lado enviesado da vida. Flávia e eu gostamos de ver o dia lutando com 
as trevas do amanhecer. 
E também achamos fraquinho quando dizem que o momento fulgurante 
chama-se “nascimento do sol”. Como o menino Perus (do conto abaixo) 
gostamos um pouco, um pouquinho só, do nome aurora, mas quando se fala 
isto baixo e sério.
Leitora voraz, sei que ela vai curtir demasiadamente bem este trecho do 
conto Malagueta, Perus e Bacanaço do imortal João Antônio.
É meu presente de aniversário para a Flávia querida e para a cidade vizinha 
que eu amo.
Nenhum outro escritor jamais descreveu em tempo algum um alvorecer 
paulistano de forma tão densamente poética, uma aurora de dolorida doçura 
vista de dentro da ótica dos botecos mal dormidos do Largo de Pinheiros.
“Luzes se apagaram nas ruas. Uma palpitação diferente,
um movimento que acorda ia-se arrumando em Pinheiros.
Primeiros pardais passavam. Perus acompanhava os dois,
mas olhava o céu como um menino num quieto demorado e
com aquela coisa esquisita arranhando o peito. E que o menino
Perus não dizia a ninguém.
Contava muitas coisas a outros vagabundos. Até a intimidade
de outras coisas suas. Mas aquela não contava. Aquele sentir,
àquela hora, dia querendo nascer, era de um esquisito que arrepiava.
E até julgava pela força estranha, que aquele sentimento não
era coisa máscula, de homem.
Perus olhava. Agora a lua, só meia-lua e muito branca, bem
no meio do céu.
Marchava para o seu fim. Mas à direita, aparecia um toque
sanguíneo. Era de um rosado impreciso, embaçado, inquieto,
que entre duas cores se enlaçava e dolorosamente se mexia,
se misturava entre o cinza e o branco do céu, buscava um tom
definido, revolvia aqueles lados, pesadamente. Parecia
um movimento doloroso, coisa querendo arrebentar, livre,
forte, gritando de cor naquele céu.”
 (João Antônio  Malagueta, Perus e Bacanaço – 1963)
 
Era pra ser Ursula. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino