Quando eu nunca mais
te procurar, pode ser que você nem note. Com coragem adoto outro filhote, com
melhor coração. Livre pra sentir e lamber também. Sem tanto talento pra me
esquecer totalmente, diariamente.
Filhotes
de raça custam mais eu sei. Quem manda preferir os vira latas. Esses só se
preocupam com o próprio alimento. Pulam bem de galho em galho, como macacos vão
onde acham que a banana é melhor, mais firme, gostosa, segura talvez. Sim, banana pode entender dessas coisas de segurança, conheço mais de uma assim, não é o meu caso.
Tenho
poucas fotos suas, que não preciso olhar pra lembrar da sua cara de pau. Se eu
fosse boa em esculturas, se tivesse as goivas certas, talharia alguma verdade
nessa sua madeira facial. Venderia ou doaria pra alguma galeria. Seria uma obra
do tipo inacreditável. Ninguém ia comprar, talvez eu mesma, pra te ter de volta
com a cara que esculpi.
Afff...
Ando vendo muitos programas "jornalísticos", aqueles sensacionalistas
das 18 horas. Onde já se viu querer talhar a sua cara?! Melhor pagar
pra que alguém o faça, não deve custar muito, assim minha mãe me vê na TV como
mandante, não como quem executou o crime, menos grave, menos mau, menos pior.
Numa concepção culpa católica mandar fazer é um pecado
menorzinho, onde um pedido de perdãozinho pode resolver.
Minha mãe se preocupa
com essa coisa de pecado. Vivo no inferno há tempos, disso ela não sabe. O que
pode ser pior?
No
inferno todos os dias são iguais, sobra chatice, poeira e enxaqueca. É um
pronto socorro de São Paulo em época de tempo seco, sem inalador pra todo
mundo, muita tosse, falta de ar... No inferno não toca funk carioca e sim música de
elevador pra combinar com o ambiente. Tem um aspirador de pó sempre ligado, que
nunca dá conta do serviço. Um filho da puta ensaia Tuba, uma nota só. E tem um trânsito que não nos deixa chegar a lugar algum.
Vivendo
com todas essas adversidades, ainda tenho tempo pra lembrar que você me
esquece.
Diariamente.
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