As vezes a Dona Realidade bate na porta. Diz oi e se recusa a ir embora. Lasca tabefes, dois pelo menos. Com olhos fundos e pequenos dá aquela encarada. Não, não quer saber de papo, café ou balada. Visita indesejada quer mais é dar uma causada. Falar de futuro, saber do seus planos... Feito mãe, adora repetir: você já têm trinta e poucos anos.
Ânus! Dá vontade de dizer: tome no ânus. Mas a realidade é uma senhora obesa e isso não se faz. Sirva bolo de cenoura, sem chocolate, pra que ela não engorde mais. Em silêncio, fingindo atenção, mande ver na abstração, reze, pra que a visita tenha fim.
Realidade não bebe, então guarde seu vinho. Tenha juízo, estratégia, escolha um caminho. Pra quando a visita voltar, não poder te apontar, aquele dedo duro, enrugado. Que te cutuca o nariz, coitado, que odeia dedo mais que resfriado.
Realidade, arrume um tarado? Tarado por conselho, pela verdade, pela fé, pela boa vontade.
Realidade, arrume um namorado. Beije na boca, lamba uma orelha, aqueça um pé gelado, sei lá. Mas pare, pare de me encher o saco? E aqui em casa não, vá cagar no mato.
0 Heim?!:
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