Ouvi de uma grande amiga no final do ano passado que meu 2023 tinha começado em 2022, é verdade. Foi quando entendi que uma caixa apertadinha, dentro de um buraco, não é nem nunca foi espaço pra mim. Foi quando tive forças pra voar pra longe, quando voltei a caminhar com passos despreocupados, distraídos, malemolentes, sem a pressão diária de uma vida que não era minha. Com angústias que não eram minhas, arroubos e sobre saltos que nunca foram meus. Sem a ferocidade que eu sequer entendo. É engraçado usar a metáfora da caixa, empacotei e desempacotei muitas nos últimos meses, algumas insistem em guardar livros e utensílios não tão úteis assim. Hoje, que já é ano novo, com lista de desejos e tudo mais, sigo caminhando com a paz que vive nesse corpo. Parece que por um tempo me esqueci o quanto viver em paz é determinante pra mim.
A gente lê, imagina, idealiza e
com sorte vivencia o amor. Nesse aspecto nem posso reclamar, ao longo dos meus 41
anos pude amar a ser amada muitas vezes, ainda sou. Em mais de um espaço, em relações
que me são muito caras. Não as comparo entre si, só recebo e retribuo como sei
e posso.
A gente também ouve sobre
relações difíceis, sobre manipulação, sobre relacionamentos que se tornam tóxicos,
acreditando que “com a gente não, seu João!”, mas esse é um buraco tão grande
que qualquer um pode cair, e uma vez dentro dele é preciso entendimento, apoio
e tanta força... Porque sair de uma caixa e escalar um buraco no escuro não é
tarefa fácil. Fora do buraco me culpei por ter passado tanto tempo nele, mas as
coisas são o que são, as pessoas também, e a gente leva o tempo que precisa pra
entender, decidir, reagir, fugir até. E uma vez fora da caixa e do buraco tem
mais um verão, com suas noites quentes, pancadas de chuva, com o recomeço de
todo ano. A outra metáfora de renascer todo ano traz um alívio... Que a
gente possa recomeçar, com o que temos de melhor. E que minha outra
característica de não guardar mágoa se mantenha em 2023. Porque mágoa só faz
mal pra quem têm.